26 de outubro de 2011

A filosofia e as ciências


As diferenças fundamentais entre as Ciências e a Filosofia residem, sobretudo, ao nível do objeto e do método. Considera-se que cada Ciência tem um objeto particular, estuda uma zona delimitada do real, enquanto que a Filosofia tem como objeto o próprio real e o Homem na sua totalidade. Por outro lado, também existem diferenças a nível do método. Enquanto que as Ciências utilizam um método experimental e podem verificar laboratorialmente as suas afirmações, o filósofo "limita-se" a analisar, refletir e discutir racionalmente os vários problemas com que se depara. Devido à natureza das suas questões, ele não pode sujeitá-los a experiências. Apesar dessas diferenças, a Filosofia interessa-se pelas Ciências, pelos seus métodos e pelas suas conclusões, na medida em que estas ponham em causa o próprio Homem. Por exemplo, a questão da clonagem humana não é só uma questão cientifica mas levanta também problemas filosóficos. Outro exemplo, é a teoria do Big Bang, que não resolve totalmente o problema da origem, nem responde à questão colocada pelo filósofo alemão Heidegger: porquê o ser e não o nada? Estas diferenças entre a Filosofia e a Ciência (ao nível do objeto e do método) fazem com que haja progresso nas ciências porque os seus problemas se vão resolvendo, ao passo que na Filosofia os problemas mantêm-se, só se altera a sua formulação; quanto muito surgem novos problemas, mas tudo isto faz com que a filosofia seja circular, um exercício como a condenação de Sísifo. Essa situação pode gerar num sentimento de insatisfação. Mas o que será melhor: um insatisfeito incomodado ou um contentinho acomodado?
(a partir de apontamentos das aulas de outubro de 2011, enviados por Raquel Ribeiro - 10º 4)

O valor da Filosofia

Não existe acordo sobre o que é a Filosofia e o seu valor. As várias conceções sobre o que é a Filosofia deviam-nos levar a falar desta no plural: em vez de Filosofia, devíamos falar de filosofias. A Filosofia vai variando de época para época na medida em que tenta responder aos problemas que são postos nessa mesma época. Como as suas respostas nunca são definitivas nem podem ser sujeitas à comprovação experimental, há problemas que são eternos. Fica-se com a ideia e com a impressão de que a Filosofia nada vale. Ao contrário do que se passa nas Ciências em que existe acordo em relação às respostas que fornece e, portanto, progresso no conhecimento. Nós discutimos problemas filosóficos que os gregos já colocavam, mas, a matemática de hoje já foi mais longe do que as conclusões de Pitágoras. Apesar disso, as questões da Filosofia dizem respeito à condição humana e interpelam o Homem no seu íntimo. Podemos dizer, face a isso, que a Filosofia não vale nada?
(a partir de apontamentos de aula de Outubro de 2011, enviados por Raquel Ribeiro, 10º 4)

23 de outubro de 2011

A alegoria da caverna de Platão e o Discurso do Método de Descartes

Em ambos os textos a questão central é a do conhecimento, em concreto, o problema da educação. Ambos põem em causa o que cada um sabe sobre a realidade. No caso de Platão, os prisioneiros são vítimas e uma ilusão; no caso de Descartes, este reconhece que, afinal, nada sabia – douta ignorância. Num caso temos a ilusão, no outro, temos a ignorância.
Tudo isto nos diz que uma das tarefas da Filosofia é a avaliação e a crítica das nossas representações. A Filosofia vem pôr em causa o que pensamos e o que sabemos. Como também o que pensamos que sabemos, que pode produzir a ilusão e ignorância máximas.
Finalmente, em ambos os textos, propõe-se que cada um adquira um novo conhecimento baseado na sua experiência de contacto com a realidade e com os outros e, também, procurando através de uma análise de si mesmo. Há no interior de si mesmo conhecimentos e disposições que nos permitem ascender a um conhecimento autêntico. Para isso, é fundamental a autonomia do sujeito.
(texto enviado por Raquel Ribeiro - 10º 4, a partir de uma aula de outubro de 2011)

21 de outubro de 2011

Onde está o filósofo na alegoria da caverna?

Na alegoria da caverna de Platão, o prisioneiro recém-libertado e que consegue ascender até à realidade exterior, descobrindo a ilusão e a mentira em que tinham vivido até aqui, decide regressar ao interior da caverna, até junto dos seus antigos companheiros. É evidente que se previa que estes, quando ouvissem o relato do outro, não fossem acreditar e aceitar as suas palavras, antes se rissem, achassem que ele estava maluco e, pudessem até ter uma reação violenta e matá-lo.
Ora, todos nós sabemos que Platão, com este prisioneiro peculiar, pretende evocar a figura do filósofo e, concretamente, o seu mestre Sócrates. Afinal, não fora este também vítima da incompreensão dos seus contemporâneos, os não-filósofos, acabando por ser condenado à morte sob a acusação de querer corromper a juventude? E é também a figura do filósofo que está em causa nesse regresso ao interior da caverna. Com efeito, como se pode justificar que regresse ao interior frio e escuro dum mundo desagradável, um mundo agreste de ilusões e mentiras? Como compreender que o prisioneiro recém-libertado não opte por ficar no seio da realidade acabada de descobrir, uma realidade mais rica, luminosa e colorida, onde se pode viver uma vida melhor e mais autêntica? Como perceber que ele abandone tudo isso e esteja até disposto a ser vítima da zombaria dos outros,a  ser coberto de ridículo e mesmo ver a sua vida ameaçada, senão mesmo morrer às mãos dos seus antigos companheiros? Porque é que está disposto a correr tantos riscos?

Também a resposta a estas perguntas aproxima-nos o seu comportamento da figura do filósofo. Ele está disposto a perder a sua vida, porque o compromisso com a verdade é mais forte. E, sobretudo, mais forte o dever de comunicar a verdade, esclarecer os seus semelhantes, explicar-lhes que existe uma outra realidade, um outro mundo e um caminh que a isso nos pode conduzir. O filósofo, preocupado com a condição humana, tem um dever para com os homens. Em nome desse compromisso está disposto a arriscar a sua vida. É mesmo filósofo!... 

10 de outubro de 2011

Poderia a Filosofia não ser grega?


Interrogo-me sobre o início. Existe um início da Filosofia, um lugar, um momento. Para o Ocidente, vale a Grécia, a Antiguidade grega. Ao que parece a Grécia possuía o território indicado para o início da Filosofia: uma extensa linha de costa, um território luminoso aberto ao mar, solicitado por essa impermanência constante, feita de água que vai e vem, que surge e se dissolve, que nos apela para lá de si mesmo. A Grécia era, pois, o melhor lugar. Um território solar é propício a ideias luminosas. Mas não havia melhor? Talvez, mas quando os Gregos apareceram a pensar a coisa filosófica, logo trataram de considerar os outros no fundo de uma caverna, eternamente iludidos com as sombras que eternamente os visitavam, como um pesadelo agarrado à pele. Os filósofos dispõem dessa especialidade capciosa muito próxima das habilidades dos políticos: quem não é filósofo é contra a filosofia; quem não habita a verdade, anda perdido a vaguear nas ruas da ilusão ou permanecerá preso aos seus preconceitos. Parece, pois, que a Filosofia não podia surgir noutro sítio. Se despontasse noutra pátria, era mais um subproduto das tolices e das paixões humanas.